‘Alice’ poderia ser um personagem ficcional e lúdico, mas convivo com ‘Alices’ em cada mulher na qual me espelho e que dialogam de volta para mim. ‘Alice’ sempre esteve presente. A identidade feminina na extensão da geração dos anos 80 na qual fui parida, ímpeto rock in roll, punk generation, campanhas Calvin Klein e cigarro Marlboro, onde passaporte de transforma em mala, Jack Kerouac vira romance dos rebeldes, e princesas pulam em mesas e em palcos de protestos.
Ainda ‘Alice’, a inquieta e curiosa e apta a se encontrar em escolhas e caminhos imprevisíveis. As Alices de 2023 povoando as conversas do ordinário e roteiros do cotidiano se reinventando na cultura feminista e de emancipação dos espaços de ocupação. Um capítulo que reivindica todos os meus 40 anos e daquilo que lembro de cada voz que se encontra na inquietação do meu olhar presente, olhando para tudo, para tantos lados e a paralisia das incertezas, agora se entendendo enquanto mães e improvisando sendo ‘coelhos’ e ‘gatos’ presentes no caminho de outras que lembram a nós mesmas, perguntando “qual melhor direção, Alice?”.
‘Alices’ que experimentam da liberdade, dos prazeres simples nesta alucinada realidade de dispositivos de novas interações sociais. Wonderland passa a ser o encontro e o refúgio de gerações, de reconciliação da figura da mulher que já se viu em tantos caminhos -muitos hoje - interditados, outros viraram trilha quando se sente perdida. Agora ‘Alices’ se guiam pelas conversas e olhares entre a mãe e as filhas naquele espaço, corpos e tempos diferentes, escolhendo os caminhos da aventura compartilhada de se conhecerem e se reconheceram nas estórias de encontros com as naturezas delas mesmas e suas individualidades. Um salto de direção indeterminada, onde qualquer caminho serve, se permitindo a excitação do escape, e o alivio do retorno.