O semáforo fica vermelho e durante essa brevidade de tempo, observo a cidade, no final do ano ela se transforma, as luzes, os enfeites de natal e a música da Simone - É sempre a mesmíssima coisa. O número de pessoas apressadas aumenta e lá vão elas carregando suas sacolas gigantes, às vezes sinto que posso ouvir seus pensamentos: Os planos para ceia, as frutas, os presentes, pilhas e pilhas deles – “Será que vai dar tempo de temperar o Peru?” "Não posso esquecer as nozes”.
Ao mesmo tempo, ali, naquela paisagem urbana e tão cotidiana, vejo as pessoas que fazem das ruas o seu próprio quintal, algumas eu já reconheço de tempos, mas há sempre rostos novos na cena. Pessoas com outras prioridades e para eles tanto faz se é Páscoa, Natal ou qualquer outro feriado cristão. Em seus Natais não há familiares, presentes, ceia, tampouco Peru.
O sinal abre, eu vou embora mas continuo pensando... Sentem eles, a falta dos familiares nestas datas? Será que sabem que domingo é Natal? Essas e outras reflexões me impulsionaram a fotografar o Natal do ano de 2022 de Tamili da Silva e outras pessoas que me permitiram invadir suas vidas com minha câmera, conheci personagens reais, outros fictícios e entrevistei muitas vezes escondendo meus medos, cheguei em casa no domingo de Natal, após 6h fotografando, aqueles odores e aquelas estórias insistiam em retornar a minha memória.