POMBAGIRAS: A Beleza que Ninguém Vê
Quem tem medo de uma mulher livre, empoderada, independente, que gargalha alto, que se inscreve no próprio desejo, que vibra sexualidade, transgressão e resistência? Quem tem medo da força das Deusas silenciadas por uma sociedade imersa em um machismo opressor extremamente enraizado no inconsciente de tanta gente?
Há muito tempo nossas mulheres vêm sendo caladas, oprimidas, julgadas e difamadas por uma estrutura social que propaga a misoginia, a submissão, a violência e agressão contra as mulheres. Nosso país foi construído a partir do sangue de mulheres assassinadas, do ventre rasgado de mulheres estupradas e abusadas. Pouca coisa mudou, desde então.
A opressão contra as mulheres se alastra por todos os cantos aonde a feminilidade se manifesta ou tenta se manifestar de forma livre, seja em espaços públicos, na disputa por cargos profissionais, dentro de terreiros e barracões das religiões de matriz africana do Brasil, na forma de se vestir e se comportar, dentro do próprio lar.
A associação com as Pombagiras, entidades espirituais que trabalham no Candomblé, Cultos de Nação e Umbanda no Brasil, se dá pela similaridade de “adjetivos” e xingamentos abusivos utilizados para difamá-las, como por exemplo: “vagabunda”, “puta”, “piranha”, “feiticeira”, “assassina”, “biscate”, “trambiqueira”, entre outros xingamentos populares; os mesmos usados para denegrir todes os tipos de mulheres.
Pombagira é Deusa Negra e Transgressora, livre e independente, dona do seu corpo, da sua vida, dona de si. Assim, como as mulheres contemporâneas atuais, empoderadas, que possuem consciência de suas potencialidades e que vêm na liberdade, uma possibilidade real para se viver.
O objetivo principal deste projeto é resgatar a voz de mulheres sufocadas, anônimas ou reprimidas, trazer de volta o poder das Deusas esquecidas, empoderar mulheres que se desconectaram da potência criativa que carregam dentro de si, resgatando sua identidade, unicidade e autenticidade.
As características do arquétipo da Pombagira são praticamente as mesmas que a de mulheres empoderadas. Associando esse arquétipo ao brilhantismo das mulheres contemporâneas, o intuito é dissolver e questionar o preconceito tanto em relação às entidades espirituais afro-brasileiras, quanto às mulheres livres, independentes, empoderadas e donas de si.
Para tanto, serão produzidas fotografias documentais do cotidiano de mulheres anônimas, contrapondo-as com retratos femininos que as mostrem de maneira empoderada e potente, trazendo um pouco das características das Pombagiras, na tentativa de dissolver o preconceito inconsciente e coletivo dessas entidades espirituais, que nada mais são do que qualidades de uma mulher independente.